25.5.11

da (im)pertinência da morte

(fotograma de Dogville de Lars Von Trier, demasiados países para serem mencionados 2003)


Não lhe era muito chegada, apenas dessas amizades de circunstância que se fabricam por frequentar os mesmos bares, gostar da mesma música, de uma certa estética dos anos 50. Nunca lhe perguntei o que era estar dentro da cabeça dela e julgo que ela própria tivesse dificuldade em explicar. Não aguentou ser mais ela. Podemos sempre ser outra pessoa. As possibilidades são infinitas quando se pensa chegar ao fim da linha. Mas ela não pensou que assim fosse. É trágico. Viveremos com isso de uma maneira ou de outra.

Demasiado fria? Sem dúvida. Apenas porque há acontecimentos ainda frescos na memória e se por um lado eles serviram para a formação de uma espécie de capa protectora que me permite neste momento criar uma certa distância, quase indiferença em relação à sua morte, por outro lado noto que venho a desenvolver cada vez mais uma certa paranóia, um medo irracional. 
O teu atraso de uma hora em relação ao combinado transforma-se num acidente medonho na A29, sangue e destroços por todo lado. Imagino-a a ela a atravessar a estrada sem olhar e a morrer-me nos braços. Um acidente de avião, um enfarte, um assalto para tantos outros. E se ao longo dos anos fui amadurecendo a minha visão da morte e de como lidar a sua inevitabilidade, parece-me neste momento, e depois de ser confrontada com ela, que caiu tudo por terra. 



E no Sábado fui ao Imaginarius. E encontro o Tiago e o Duarte. Fiquei cabisbaixa. Ao perguntares-me o que se passava respondo que eles estão ligados a um episódio triste da minha vida. Não parecia. Pois não...somos assim, a maneira de lidarmos com as memórias que nos assolam sempre que nos vemos é relativizar a coisa. Secalhar somos até efusivos demais. E passado dois minutos, eu ainda no meu mood cabisbaixo e passa o Gusta, ligado também a esse episódio triste. E o universo é uma merda, porque não se devia permitir a este tipo de coincidências caprichosas. Mas como dizia o outro, o universo é indiferente. A minha sanidade, infelizmente, não o é.

5.5.11

tu disseste, eu disse. II



tu disseste, eu disse.



2.5.11

das traduções muito mal amanhadinhas

(fotograma de O Céu sobre Berlim, de Win Wenders, RFA/França 1987)

«My story isn't about BERLIN 
because it is set there,
but because it couldn't be set anywere else.
The name of the film will be :
THE SKY OVER BERLIN
because the sky is maybe the only thing
that unites these two cities, 
...
with a common past
but not necessarily a shared future.» 


WENDERS, Win, An Attemped Descripition of an Indescribed Film and Wings of Desire, The Logic of Images : Essays and Conversations, Faber and Faber, London/Boston 1991


O título original da coisa é Der Himmel über Berlin que, traduzido literalmente, dá qualquer coisa como O Céu sobre Berlim, sendo que "céu" adquire um duplo sentido : tanto em alemão (himmel) como em português (céu) a palavra pode significar aquela coisa azul sobre as nossas cabeças ou aquele sítio onde as pessoas que se portaram bem vão parar depois de deixarem o invólucro material, o que faz todo o sentido visto o filme retratar a vida dos anjos. Já em inglês há uma palavra para cada coisa : "sky" e "heaven". Claro que a opção por traduzir como "sky" excluiria o significado de "heaven" e vice-versa, mas no caso, dado que "Himmel" está em maiúscula a opção mais acertada seria traduzir como "heaven".
Não sei quem foi o palerma que traduziu isto como Wings of Desire ou o ainda maior palerma que foi atrás e traduziu como Asas do Desejo, mas chateia-me que um grande título com um grande significado se perca devido a umas quaisquer picunhices das distribuidoras.

1.5.11

perdidos achados ou o que é que tá a fazer um rato morto na minha foto.


(Mariana Lopes 2011)

Louie, I think this is the beginning of a beautiful collection.










É pena admitir mas nunca comprei muitos cds. Principalmente por questões monetárias, mas também por questões práticas e de circunstância : quando há coisa de três anos o meu leitor de cds avariou já estava tão rendida ao mp3 que nem considerei comprar um novo. De quando a quando lá comprava um cd, mais por causa do objecto do que da música...acabava por não lhe dar uso. Até que há uns tempos atrás, outra vez por força das circunstâncias - trocar de carro e ter um rádio-leitor de cds que é esquisitinho e só lê bem cds 'originais' - comecei a olhar para as promoções dos cds nas lojas. E resolvi que seria bem de quando a quando comprar um cd, no máximo entre os 5 e 7 euros, que eu considerasse fazer parte da minha colecção ideal. So far so good.

E sim, na capa do meu Transformer o Lou Reed tá mais cabeludo e a dos Spiritualized é toda preta. Tenho a mania que sou diferente.