31.10.09

crónicas do 77


Estava à espera dela. Tinhamos combinado ir ao teatro. Sentei-me na esplanada (vazia) a beber a cerveja e a ler o folheto da peça. Sentam-se na mesa ao lado um grupo de amigos.

rapariga 1 para rapariga 2 - Olha há quanto tempo descobriste que eras bi?
rapariga 2 - Há dois meses.
rapariga 1 - E onde é que descobriste?
rapariga 2 - No Via Rápida.
(...)
rapariga 1 - ...estou a tentar entender a bisexualidade! Pra mim ou gostas de queijo ou gostas de fiambre, pá!
(...)
rapariga 1 - Posso fazer uma pergunta? Já alguém aqui levou no cu?
(vários respondem que sim, acho que havia alguns rapazes gays no grupo)
rapariga 1- E dói muito?
(começam a discutir o assunto)
rapaz 1 - Pá, mas vais à farmácia e pedes um gel, ou uma pomada...pedes Halibut e tens a coisa resolvida.

p.s.



olha, eu também te adoro, mas se me voltas a abraçar e (involuntariamente) levantar-me o vestido de modo a que a minha cuequinha preta ficasse exposta (durante o que me pareceu uma eternidade) para todo o churrasco da Faup, não te livras de um olho negro - ou algo pior.

requintes.

(sms enviado às 1.50 horas)  - Onde estás?
(sms recebido às 1.52 horas) - 3.14 olho.


(Lindo).

29.10.09

pinhole




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corbis readymech cameras

skhizein


Skhizein (Jérémy Clapin,2008) from Stephen Dedalus on Vimeo.

A fantástica curta Skhizein, descoberta há um ano no festival de curtas do Rio, festival que por acaso está a decorrer e eu estou a perder. Tudo por causa de um bilhete de volta. Bendita seja a União Europeia, porra.

how scared should we be?


25.10.09

chaos reigns



Em Antichrist, a culpa d'Ela não surge como consequente da morte do filho. Surge da constatação da sua própria natureza feminina.


(e no fim do filme pensei muito muito na Sarah Kane)

23.10.09





[fotogramas do Wild at Heart (um dos meus mais-que-tudo) de David Lynch]

20.10.09

!beware the invasion!






portoinvaders




©Mariana Lopes feat. Space Invaders

já me ia esquecendo


o pilhas é o maior cracker de sempre.

 
Tinha uma espécie de curiosidade. Porque simpatizo com o blogue, porque tudo o que me venha ajudar a perceber a minha própria relação com o Rio de Janeiro (nem que seja por experiências romanceadas ou fictícias de outras pessoas) é bem vindo. Porque acho piada aos 'filmes' preversos que certos estados tediosos suscitam. No fundo no fundo, tirando a escrita indisciplinada - que não surge como linguagem, mas sim como uma "dificuldade em manter a narrativa e ir fechando as pontas soltas a tempo" (que será o mais interessante do livro) - e algumas 'tiradas' com a sua piada ( não aquelas sexuais - 'descaramento íntimo'? toma lá um LOL) sobram o 'tédio burguês' e a 'neurose tropical'. Nunca o 'amor a uma cidade'. Quanto muito o amor a um bairro, uma zona, uma praia (claro, nunca seria sobre o tédio burguês se ela em vez do Leblon falasse do Flamengo, do Grajaú ou da Penha) - enfatizando o desconhecimento do resto da cidade quando ela descreve a sua volta do aeroporto para o Leblon, dizendo que fez 'toda a Linha Amarela' encontrando apenas ' um bocado de trânsito no Túnel Rebouças e nos sinais junto ao Jockey' [num outro capítulo e numa visita a S.Paulo ela escreve que 'estava perto do Museu de Arte Moderna, no meio da Paulista' - coisa meio imperdoável confundir o MAM com o MASP, mas isso sou eu por causa do cérebro de (quase) arquitecta, compreendo que pra outros não seja grande falha].
E depois há aquela falácia em que quase todos os não-brasileiros caem. Lá pela relação com o corpo ser um tanto diferente do resto do mundo, não quer dizer que os brasileiros não sejam 'pequenos' - estando a sua abertura mental mais ou menos ao nível da da Dona Felisberta, habitante número 12 (dos 13) de uma aldeia perdida no Marão. São das pessoas mais conservadoras, misóginas, machistas, tradicionalistas, não respeitadores da individualidade que conheci (há excepções, claro).
Acho que me fico pelo tédio burguês das novelas da Globo (e por mais uma semana, pela dita 'pequenez do portugueses').


19.10.09

atlântico sul once again.


©Mariana Lopes 2009


é necessário padecer de uma certa demência quando se atravessa um oceano e se anda 9 horas de avião (à mercê de um qualquer ataque de pânico resultante da recentemente adquirida aerofobia) e se resolve voltar, por mais três meses (ou menos) com  desculpas mais ou menos credíveis como uma tese em que já pouca vontade se tem em acreditar ou um possível estágio do qual me fartarei em dois tempos porque arquitectura tem dias em que não me dá tesão e o cinema novo tem dias em que me aborrece.
é necessário padecer de uma certa demência quando se volta sabendo que ninguém lá está, a não ser o porto de abrigo que é a dona Celeste, um devaneio mal resolvido e alguns conhecidos esporádicos.
mas, é-se necessariamente demente quando a verdadeira razão que leva às 9 horas de avião e 3 meses de trabalho, humidade e neurose tropical é fechar uma espécie de capítulo. De me resolver de uma vez por todas com a cidade (este amor-ódio não está com nada) e de arrasto tentar sair de uma espécie de pós-adolescência mal resolvida, feita de inseguranças, incongruências, auto-flagelações mentais, alternâncias de humor e imaturidades.
uma espécie de 'adultos à força'.
balanço dentro de 3 meses (ou menos).

(post com banda sonora de Titus Andronicus - porque, independentemente das letras, a musicalidade sugere-me sempre a promessa de uma espécie de brighter future).  

16.10.09

Comemoram-se os 20 anos da queda do muro de Berlim. Resolveu-se pintar de novo a East Side Gallery (um grande pedaço do muro que ficou de pé e serve pra turista ver) e convidar (?) alguns artistas plásticos pra pintá-lo. Resultado : parece daqueles trabalhos do secundário (ou do básico) em que cada uma fazia um desenho e depois ia-mos todos encher de rabiscos um muro qualquer lá da Escola Secundária. Com tantos artistas 'urbanos' e outros que tal a fazer coisas tão interessantes (e interventivas) por aí, vão encher o muro de rabiscos de pombas brancas no meio do fogo e de criancinhas com caras tristes. Tenham dó senhores germans.

inevitabilidades



é incrível como depois do 'terceiro mundo', estas cidades higiénicas e fotogénicas, cheias de planos urbanos, cérceas regularizadas e edifícios de 10 000 anos, jardins e Starbucks, Dunkin Donuts e construções super-hiper-mega contemporâneas, pessoas bem vestidas e (esporadicamente) simpáticas, reciclagem e boas redes de transporte urbano, sustentáveis e cheias de bicicletas,  já não me satisfazem.

e estou-te mesmo a ver : vais-me dizer é bem feito que a  América do Sul me pegue nessas idiossincrasias.

(mas a verdadeira razão pela qual não gosto da Alemanha é porque a cerveja dá-me dores de cabeça e deixa-me o estômago num oito - e deus me livre de ter de viver sem cerveja!)

'These pictures come out of relationships, not observation.'



Nan Goldin©Mariana Lopes 2009

Por vezes o 'campo de actuação' (não é bem isto, mas dá pra perceber a coisa) do síndrome de Stendhal ultrapassa as obras de arte. Deveria, de quando a quando, poder ser aplicável também a pessoas. 

No entanto deveria começar pelo príncipio, quando tu não te contiveste e atiraste assim à cara podre que iria inaugurar uma exposição da Nan Goldin em Berlim e que tinhas convites pra palestra que ela iria dar no Sábado à tarde.

Os alemães são verdadeiros ass-kissers, mas compreende-se de certa forma a impossibilidade de ficar indiferente ao ser mais genuíno, honesto, humilde, cómico e talentoso com o qual me cruzei em anos [agora sou eu a lambe botas].

E veio-me à cabeça aquele final do Delírio em Las Vegas, quando o Johnny Depp fala sobre a grande falácia em que toda a geração dos 60 caiu : qualquer coisa sobre acreditarem que haveria sempre uma luz ao fundo do túnel.  Não se poderá dizer que Nan Goldin pertenceu à geração dos 60 (em 69 era uma adolescente recente), mas é de certa forma uma sobrevivente do que restou dessa geração e da geração seguinte, fotografando a sua vida e dos seus amigos (salvo raras excepções, ela só fotografa pessoas com quem algum tipo de laço afectivo) num quotidiano em que, como ela própria diz, eles procuravam (sobre)viver.E é engraçado o seu o torcer de nariz quando referem que ela fotografa uma espécie de submundo, ou pessoas à parte, marginalizadas -  com calma explica que eles viviam no mundo deles, nada mais interessava. Para eles a parte marginalizada, o submundo seria o resto do mundo, nunca eles.
Claro está que depois de algumas décadas, olha-se para a lista 'em memória de' nos créditos finais da exposição e conta-se 23 nomes. 23. É um preço alto a pagar pela maneira como eles tentavam (sobre)viver. [e sobre isto li algures que ela considerava que tinha um espécie de 'síndrome de sobrevivente' - afinal tinha feito tudo o que os amigos faziam e eles estavam mortos e ela não].

Mas depois de tudo, e independentemente das escolhas [dos excessos, do glamour e da sargeta, da violência e da doença, da intimidade e do enjoo, da felicidade e da (a)normalidade] a morte apresenta-se como inevitável. Assim como as suas fotografias.


[Ah! A exposição em si estava uma merda. Mas depois de Serralves duvido que venha a ver melhor - e depois há aquela foto que ficou gravada na memória, a do puto com a flor em primeiro plano (um narciso?) com a qual nunca mais me cruzei. damn it!]

Mit tiefer Dankbarkeit! *



*aposto que esta não conhecias ah? mas como sou simpática e gosto de te facilitar a vida aqui tens.

crónicas europeias : parte I Berlim



©Mariana Lopes 2009

 
não necessariamente por esta ordem, e com algumas coisas pelo meio (e omitindo outras) :

Mies van der Rohe feat. Calder na Neue Natinal Galerie. Libeskind e o Museu Judaico. I. M. Pei e a ampliação do Museu Histórico Alemão. Siza e o Bonjour Tristesse. East Side Gallery. Peter Eisenman e o Memorial do Holocausto. os delírios de Frank Gehry no DZ Bank. Foster e o Reichstag. Jeff Koons descoberto ao acaso numa praça qualquer (também descobri um Richard Serra, mas a foto ficou feia (um viva às aliterações!). Hans Scharoun e a Filarmónica de Berlim.

4.10.09

achtung baby!

vou aqui e aqui e já volto.mas antes vou abanar a anca aqui.

3.10.09