Nan Goldin©Mariana Lopes 2009
Por vezes o 'campo de actuação' (não é bem isto, mas dá pra perceber a coisa) do síndrome de Stendhal ultrapassa as obras de arte. Deveria, de quando a quando, poder ser aplicável também a pessoas.
No entanto deveria começar pelo príncipio, quando tu não te contiveste e atiraste assim à cara podre que iria inaugurar uma exposição da Nan Goldin em Berlim e que tinhas convites pra palestra que ela iria dar no Sábado à tarde.
Os alemães são verdadeiros ass-kissers, mas compreende-se de certa forma a impossibilidade de ficar indiferente ao ser mais genuíno, honesto, humilde, cómico e talentoso com o qual me cruzei em anos [agora sou eu a lambe botas].
E veio-me à cabeça aquele final do Delírio em Las Vegas, quando o Johnny Depp fala sobre a grande falácia em que toda a geração dos 60 caiu : qualquer coisa sobre acreditarem que haveria sempre uma luz ao fundo do túnel. Não se poderá dizer que Nan Goldin pertenceu à geração dos 60 (em 69 era uma adolescente recente), mas é de certa forma uma sobrevivente do que restou dessa geração e da geração seguinte, fotografando a sua vida e dos seus amigos (salvo raras excepções, ela só fotografa pessoas com quem algum tipo de laço afectivo) num quotidiano em que, como ela própria diz, eles procuravam (sobre)viver.E é engraçado o seu o torcer de nariz quando referem que ela fotografa uma espécie de submundo, ou pessoas à parte, marginalizadas - com calma explica que eles viviam no mundo deles, nada mais interessava. Para eles a parte marginalizada, o submundo seria o resto do mundo, nunca eles.
Claro está que depois de algumas décadas, olha-se para a lista 'em memória de' nos créditos finais da exposição e conta-se 23 nomes. 23. É um preço alto a pagar pela maneira como eles tentavam (sobre)viver. [e sobre isto li algures que ela considerava que tinha um espécie de 'síndrome de sobrevivente' - afinal tinha feito tudo o que os amigos faziam e eles estavam mortos e ela não].
Mas depois de tudo, e independentemente das escolhas [dos excessos, do glamour e da sargeta, da violência e da doença, da intimidade e do enjoo, da felicidade e da (a)normalidade] a morte apresenta-se como inevitável. Assim como as suas fotografias.
[Ah! A exposição em si estava uma merda. Mas depois de Serralves duvido que venha a ver melhor - e depois há aquela foto que ficou gravada na memória, a do puto com a flor em primeiro plano (um narciso?) com a qual nunca mais me cruzei. damn it!]