A colocação da câmara e a escolha do enquadramento assume um papel fulcral na questão da apresentação da acção, de seus intervenientes e da sua relação com o espaço. Posteriormente entra a questão da montagem, embora seja uma questão que na minha opinião é pensada logo ao princípio e não como um acto à posteriori feito por um homem numa sala qualquer.
E é engraçado que a maioria dos filmes que nos são apresentados hoje em dia (dentro de um certo circuito, claro) peca tanto pela falta de formalismo que sequências como esta do The King's Speech saltam à vista. Não vou entrar em considerações sobre a validade do que aqui foi feito, mas há claramente uma intenção no enquadramento, na disposição dos elementos, no tipo de plano que é feito e na sequência da montagem.
A sequência começa com um plano médio, onde vemos Albert e Lionel sentados frente a frente, dando início a um diálogo. Lionel é um terapeuta da fala autoditacta, conhecido pelos seus métodos invulgares e neste ponto surge como uma espécie de última esperança para resolver o problema de gaguez de Albert.
Nesta primeira conversa, num constante tom provocatório , Lionel põe Alberto numa posição desconfortável enquanto tenta perceber o seu passado e o homem em que ele se tornou.
Depois de apresentada a situação, o diálogo é feito com planos alternados de Albert e Lionel. E é interessante notar a opção por situá-los de forma complementar, ou seja, Albert é encostado ao lado esquerdo do enquadramento enquanto que Lionel é apresentado do lado direito. O vazio de um plano é preenchido com a figura do personagem no plano seguinte...
...ou seja é como se houvesse uma tentativa de que o espectador junte os planos de forma a que sejam entendidos como um só, suavizando o corte e apimentado um bocado o campo/contra-campo habitual (montagem minha).
Outra questão explorada é o ritmo da sequência. Há algumas 'pausas', passando outra vez para plano médio.
É engraçado também notar a aproximação do plano ao longo do diálogo, acentuando a tensão e a intimidade, à media que as perguntas de Lionel se vão tornando mais pessoais e impertinentes fazendo com que Albert perca a paciência.