11.9.09

não estou entrando em lugar nenhum mas saindo de todos os outros.


O que me estorva em Estorvo:
.poderia ser uma questão conceptual : o que para mim é entendido como uma estória de inevitabilidade de uma condição, Ruy Guerra entende como a busca de uma outra condição;
.poderia ser o exagero de recursos cinematográficos com vista a acentuar o universo distorcido de Estorvo;
.poderia ser a maneira um pouco
naif com que ele conjuga todos esses recursos, resultando numa espécie de salgalhada visual;
.poderia ser o actor principal, que embora expressivamente satisfatório quando abre a boca ou anda/corre é uma desgraça;
.poderia ser a figura da amiga magrela ou do caseiro - desnecessariamente grotescas(que passariam a ser necessariamente grotescas se o resto do filme fosse construído noutro sentido...)
.poderia ser o final: no livro não há uma noção de fim mas de continuidade...




...mas não...a única coisa que me estorva verdadeiramente no Estorvo de Ruy Guerra é a casa(até porque no fim de contas até gostei do filme). A casa da irmã. Porque alguém que pretenda ser fiel na transposição do romance de Chico Buarque para o grande ecrã - que creio que tenha sido a intenção de Ruy Guerra- saberá que Chico estudou arquitectura. Por uns tempos, em S.Paulo. E isso transparece na construção dos espaços em Estorvo. Principalmente na casa da irmã. E o que no livro é uma grande construção espacial que faz inevitavelmente parte da caracterização das personagens e da própria acção, no filme ficará reduzido (nas poucas cenas de que faz parte) a um apartamento de fundo de escada, completamente secundário para o desenrolar da trama. E isso não se faz.*




*principalmente porque, agora que a dissertação será sobre Arquitectura e Cinema Brasileiros, essa casa, se devidamente transposta para a tela, teria dado pano pra mangas...

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