4.2.10

dos conceitos abstractos [como a cor ou a moral]

Nos últimos tempos (mais precisamente desde que vi o Anticristo, e, 5 meses depois li as críticas portuguesas - sim...ia estar mesmo à espera que saisse em Portugal pra o ver...) tenho pensado sobre o quão abstractos são conceitos como a beleza, a moral, os valores, a lei...e que de certa forma todos eles são ficção. Não existem. Bem, daí e doutros lados é que advém o serem abstractos - a sua formulação será sempre condicionada por um conjunto de outros conceitos como a cultura, a história, etc.
A questão é que as pessoas encontram-se tão presas a esses conceitos abstractos que não são capazes de perceber a sua moldabilidade  e subtilezas, acabando por, consequentemente, limitar o seu campo de  pensamento e de actuação .
Porque é que a cena em que mostra o bebé a cair da janela ao ralenti não há-de ser bela...? Porque morre um bebé?...Porque é que a Gainsbourg a masturbar-se é um ultrage,... depois de toda a pornografia será o sexo ainda um tabu?
- Senhores críticos e intelectuais...será Sarah Kane uma abominação ou dar-se-á o caso do vosso conceito de belo ser limitado...?


Cleansed, Sarah Kane encenada por Krzysztof Warlikowski

A questão da cor aparece aqui como uma espécie de epifania (e logo como metáfora):
ao entrar pela primeira vez numa câmara escura e ver a camisola de um amigo meu [que à luz natural era vermelha] branca, percebi que a cor não existia. Ou melhor, que a nossa percepção da cor está condicionada pela questão da luz natural ser branca [sobreposição de todas as cores] e por questões neurológicas :


A cor é algo que nos é tão familiar que se torna para nós difícil compreender que ela não corresponde a propriedades físicas do mundo mas sim à sua representação interna, em nível cerebral. Ou seja, os objectos não têm cor; a cor corresponde a uma sensação interna provocada por estímulos físicos de natureza muito diferente que dão origem à percepção da mesma cor por um ser humano.
(...)
A cor não tem só que ver com os olhos e com a retina mas também com a informação presente no cérebro. Enquanto, com uma iluminação pobre, um determinado objecto cor de laranja pode ser visto como sendo amarelado ou avermelhado, vemos normalmente mais facilmente com a sua cor certa, laranja, porque é um objecto de que conhecemos perfeitamente a cor.
(...)
A chamada constância da cor é este fenómeno que faz com que a maioria das cores das superfícies pareçam manter aproximadamente a sua aparência mesmo quando vistas sob iluminação muito diferente. O sistema nervoso, a partir da radiação detectada pela retina, extrai aquilo que é invariante sob mudanças de iluminação. Embora a radiação mude, a nossa mente reconhece certos padrões constantes nos estímulos perceptivos, agrupando e classificando fenómenos diferentes como se fossem iguais. O que vemos não é exactamente «o que está lá fora», mas corresponde a um modelo simplificado da realidade que é de certeza muito mais útil para a nossa sobrevivência.


O que vale para a cor e a sua subjectividade também valerá para todos os outros conceitos acima enumerados.

Nunca li o Zaratustra, portanto só superficialmente é que poderei afirmar que esta linha de pensamento se aproxima de certa forma ao conceito de Super-Homem de Nietzsche, nem quero com isto dizer que o entendimento da 'ficção' de certos conceitos conduzirá inevitavelmente a um niilismo negativo...o que importa sublinhar é uma espécie de libertação que levará a uma percepção mais alargada do real, sem com isto perder aquilo que nos define enquanto seres vivos, Homens, dentro de uma determinada sociedade e cultura.

1 comentários:

margarida. disse...

tens a resposta no blog.
Beijo, 'o gostosa.

ja agora, http://www.kunsthallewien.at/cgi-bin/event/event.pl?id=3647&lang=en
marca la a aviagem.
:)