30.11.10

espelho meu, espelho meu, há melhor filme de ressaca do que eu?

Gosto muito de passar dias se ressaca em frente à televisão a ver filmes chungas ou em frente ao computador a ver séries. Desta vez resolvi aproveitar melhor o tempo e ter mais critério na escolha, ou seja, deitar-me em frente ao computador e ver uma série de filmes que, embora não estando na categoria de filme-de-Domingo-à-tarde-da-TVI, não me obrigassem a pensar ou a estar muito atenta. Correu bem. Resolvi fazer este post, que também se poderia chamar 'Como fazer uma crítica a 7 filmes em cinco minutos.' Classificação de uma a três estrelas, pra ser mais fácil.

1 estrela:
 (fotograma de I'm Still Here, de Casey Affleck, EUA 2010)

Deve ser mesmo fabuloso tirar um ano das nossas vidas pra fazer figura de urso, gozar com a imprensa sensacionalista, com Hollywood, com o Letterman e com os meninos do hip-hop (por acaso o P.Diddy parece ser o único gajo que não cai na esparrela e o manda dar uma curva) e ainda ser pago por isso. Quanto às aspirações mais profundas do 'documentário'  - um actor famoso e premiado em conflito consigo próprio e com o mundo, que resolve perseguir o seu verdadeiro sonho e no meio se vai desgraçando fisicamente com recurso a drogas e putas (onde é que eu já vi isto...) - ficam um bocado aquém das espectativas, quer em termos de conteúdo, quer em termos de forma. A 'catarse' final - o reencontro com o pai e com as 'origens' - principalmente a última sequência em que ele vai mergulhando no rio é uma coisa que me fez passar pelas brasas em dois ou três momentos.


(fotogramas de An Education de Lone Scherfig, RU/EUA 2009)
Começo a ficar farta de filmes de meninas que se apaixonam por gajos mais velhos. E este em particular é quase irmão, embora num contexto diferente, de outro filme inglês de 2009, Fish Tank. Meninas que se apaixonam por um gajo mais velho, dão umas trancadas e depois descobrem que eles são casados e têm filhos. Embora no caso de Fish Tank o conteúdo e a forma sejam bastante mais crus que neste. E, mesmo que haja um questionamento explícito do papel da educação e da mulher na sociedade dos 60, fica a ideia de que o que interessa é ires pra Oxford e estudares senão tás fodida.

2 estrelas :



(fotograma de Inception de Christopher Nolan, EUA/RU 2010)

Este devia mas é chamar-se Confusion. Daqueles filmes em que é preciso estar tão atento ao enredo que não sobram neurónios para apreciar outros aspectos do filme. A reter a cena em que não há gravidade. Gostava mesmo de saber como filmaram aquilo. A questão da diferença de tempos entre os diferentes níveis de sonho poderia estar melhor explorada em termos formais...mas pronto, escapa.

(fotograma de The Dark Knight de Christopher Nolan, EUA/RU 2008)

Eu, como fã do Chris Nolan de 'Memento' e um bocadinho de 'Insomnia' fiquei apreensiva quando ele se meteu nestas super-produções. Mas o gajo tem-se safado bem, embora aquela coisa recorrente (podemos ver isso em Batman, OInício e nestes dos últimos aqui referidos) de filmar um diálogo com a câmara sempre a rodar à volta dos actores me enjoe profundamente. Não sei quem raio lhe disse que aquilo funcionava bem, mas pronto.
3 estrelas:

(fotograma de My Own Private Idaho, de Gus Van Sant, USA 1991)

E para equilibrar, mais cabeça e menos efeitos especiais. Gostei especialmente do pequeno formalismo a que ele se permitiu quando representa uma relação sexual através de posições e não do acto contínuo. E é engraçado que podiam ser fotos, mas não, são os gajos mesmo parados durante uns segundos.

(fotograma de Shutter Island de Martin Scorsese, EUA 2010)

E eu que até não sou nada deste género de filmes colei do princípio ao fim. Em parte para descobrir qual era o desenlace - e mais uma vez tive razão, embora tenha que admitir que este me custou mais um bocado. Irritou-me a banda sonora, assim como as cenas de tempestade, demasiado artificiais para a qualidade do resto. Lembrou-me o Hullumeelsus (Loucura) de Kaljo Kiisk, um filme russo dos anos 60, em que um oficial da Gestapo é enviado a um sanatório devido a uma denúcia anónima. Supostamente entre os malucos havia um espião e no decorrer da investigação o oficial acaba por ficar também maluco. No final percebe-se que a denúncia era falsa e tinha sido feita pelo director da prisão, com a intenção de poupar por mais algum tempo a vida dos pacientes, que seriam chacinados mais cedo ou mais tarde pelos gajos da Gestapo.

Também me lembrou o 1984 (o livro), pela lavagem cerebral. E aliás foi com o final do 1984 em mente que consegui descobrir o desenlace. O Ípsilon disse : 'Ao fim das quase duas horas e meia, ficamos aliviados quando identificamos a solução do mistério - e quando damos por nós a perguntar se o mistério ficou realmente resolvido, percebemos que Scorsese ganhou o jogo.' A solução do mistério encontra-se na última fala do DiCaprio, quando ele pergunta a Chuck se é preferível 'viver como um monstro ou morrer como um homem bom'. No ínicio vemos DiCaprio chegar à Ilha como um Marshall que vai investigar o desaparecimento de uma paciente. No decorrer do filme coisas estranhas se vão passando e no final dão-nos a entender que DiCaprio afinal era um paciente da instituição que, negando a si próprio o que tinha feito (matado a mulher que por sua vez tinha matado os seus três filhos) entrava em reset cerebral infinito. Numa tentativa de o curar definitivamente os psiquiatras da instituição conduzem uma experiência a fim de tentar que ele admita a sua realidade e os seus actos. OU...os psiquiatras resolveram trazer um homem são (que tinha alguns traumas no seu passado, o que abria uma brecha para eles trabalharem) para a Ilha e conduzirem uma experiência que tinha em vista uma lavagem cerebral complexa, para o fazerem crer que a sua própria vida era uma mentira?
Quando no final vemos que finalmente DiCaprio aceita a sua condição de assassino (para gáudio dos psiquiatras) acreditamos na primeira versão, ele admite, está curado. Quando no dia seguinte ele aparentemente entra em reset e volta à mesma paranóia de sempre, eles resolvem 'matá-lo', a experiência não resultou. No momento em que ele questiona se é preferível viver como um monstro ou morrer como um homem bom percebemos a sua lucidez e a sua escolha : ser declarado curado através da lavagem cerebral (o que implicava ele admitir ter matado a mulher, embora ele tivesse a a consciência de não o ter feito) ou morrer como um homem bom, ou seja com a consciência da realidade e dos seus verdadeiros actos?
 



(fotogramas de Io sono l'amore de Luca Guadagnino, Itália 2009)

A gula e a luxúria de novo misturadas. A decandência da burguesia, a morte, a libertação. Tudo muito bem filmado - não posso no entanto concordar com algumas críticas que li por ai que elogiam o domínio de câmara. Se houve coisa que não gostei foi a utilização da câmara.. E nalgumas partes o tipo de corte de plano que é feito, demasiado brusco.


3 comentários:

Marianissima disse...

Gostei muito de Io sono l'amore, os movimentos bruscos que falas a mim lembravam-me Hitchcock muitissimo, mas ainda não parei a analisar que sentido tem.Em certos momentos lembrou-me Villa Amalia, de Benoît Jacquot com Isabelle Huppert, também explora a libertação a partir da Natureza e do sexo. Gostei muito muito desse filme.

A educação da menina vi em Barcelona no cinema com a minha prima Inês e queriamos pedir o dinheiro de volta ao sair.

Saudades marianona, vem visitar!

mariana disse...

uhhhhh! that was an educated comment, milady!

Em Janeiro, quando nevar. Mas suponho que venhas cá no Natal..., não?

saudades my love*

Marianissima disse...

já está a nevar e não, oh